13 de jan. de 2012
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre as criaturas, amar?
Amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar e amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este é o nosso destino: amar sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
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3 comentários:
Que pode uma criatura senão,
entre as criaturas, amar?
Que poema maravilhoso!!
O amor é tudo nessa vida.. é o que nos mantem acesos! BjO, Ótimo domingO! *_*
Drummond... quero ser que nem ele quando crescer! ^^
abraço!
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